Biodiversidade marinha é motor para economia azul em Santa Catarina
A biodiversidade marinha de Santa Catarina está no centro de um movimento que aposta em ciência, sustentabilidade e desenvolvimento econômico. O Estado, reconhecido por liderar a produção nacional de moluscos, agora avança em novas frentes da economia azul, que valoriza o uso responsável dos recursos marinhos. Dos tanques de pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) às fazendas de algas na Baía Sul, pescadores e pesquisadores desenvolvem soluções que geram renda, conservação ambiental e atraem inovação para o estado.
Em Florianópolis, o Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM/UFSC) é pioneiro no país ao fechar o ciclo completo de cultivo do ouriço-do-mar Echinometra lucunter em ambiente controlado. Pela primeira vez no Brasil, foram produzidos cerca de 1,3 mil juvenis em laboratório, para fortalecer a aquicultura sustentável. Coordenado pelo professor Cassio de Oliveira Ramos, especialista em aquicultura marinha, o projeto é considerado um marco para a maricultura nacional.
“Estamos fechando todo o ciclo produtivo de uma espécie nativa de ouriço-do-mar com foco na aquicultura. Esse marco é um passo decisivo para criar uma nova cadeia produtiva, integrando ciência, economia azul e sustentabilidade, com alto potencial comercial e ambiental”, explica o pesquisador.
A espécie foi escolhida por ter características ideais ao cultivo, como crescimento rápido, resistência ao manejo em cativeiro e gônadas valorizadas na gastronomia, especialmente na culinária japonesa. O domínio de todas as etapas de reprodução e crescimento em laboratório reduz a extração predatória e abre caminho para a produção comercial em larga escala.
“O cultivo de juvenis em laboratório é uma estratégia eficaz para reduzir a pressão sobre os estoques naturais e, ao mesmo tempo, gerar novas fontes de renda para pescadores e pequenos produtores”, afirma o pesquisador.
Ainda segundo ele, o cultivo pode ser integrado a sistemas multitróficos com ostras, macroalgas e camarões, para aproveitar nutrientes e melhorar a qualidade da água.
Macroalgas ganham espaço na maricultura catarinense
Enquanto os ouriços avançam nos tanques da UFSC, outra frente de inovação cresce nas águas do litoral. Pesquisas conduzidas pela Epagri e pela própria universidade transformaram a macroalga Kappaphycus alvarezii em uma nova alternativa de cultivo marinho.
Em 2020, Santa Catarina conquistou autorização ambiental para o cultivo da espécie, usada na produção de carragenana, substância espessante e estabilizante utilizada nas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética. A primeira safra comercial foi registrada em 2021 e totalizou mais de 100 toneladas, produzidas por quatro maricultores de Florianópolis e Palhoça.
Hoje, cerca de 15 produtores catarinenses já cultivam a alga, que pode render até R$ 333 mil por hectare ao ano, segundo a Epagri. Além de gerar renda, o cultivo traz benefícios ambientais, já que as algas absorvem o excesso de nutrientes e ajudam a combater a acidificação do mar.
A parceria entre UFSC e Epagri também deu origem a um biofertilizante natural feito a partir do extrato das macroalgas, rico em substâncias que estimulam o crescimento das plantas. Cada quilo de alga fresca rende aproximadamente 800 mililitros do produto, que tem preço médio de R$ 18 por litro.
Colônia Z-11 e UFSC unem forças
Outra iniciativa que aposta na integração entre ciência e comunidades tradicionais é o convênio entre a Colônia de Pescadores Z-11, de Florianópolis, e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O acordo prevê a doação anual de dois milhões de sementes de ostras-do-pacífico (Crassostrea gigas), além da oferta de cursos de capacitação voltados à iniciação e ao planejamento da maricultura.
De acordo com a parceria, cabe à UFSC desenvolver projetos voltados ao avanço tecnológico da produção de moluscos bivalves, além de realizar atividades de ensino e extensão em parceria com os pescadores. Já a Colônia Z-11 é responsável por disseminar os cursos entre os conveniados e interessados, além de disponibilizar um espaço físico, que serve como base de apoio para as ações de pesquisa e produção do Laboratório de Moluscos Marinhos.
A parceria reforça o papel da universidade como polo de conhecimento aplicado e aproxima a pesquisa científica das práticas produtivas locais. O convênio também contribui para o fortalecimento da maricultura catarinense.
Bioeconomia marinha como vetor de desenvolvimento
Para o Sebrae/SC, o avanço de iniciativas como essas reforça a importância da biodiversidade marinha como ativo econômico de Santa Catarina. A gestora estadual de economia azul da instituição, Patrícia Mattos, comenta que o Estado tem condições únicas para liderar esse movimento no país.
“A riqueza marinha e os ecossistemas costeiros de Santa Catarina são ativos econômicos, culturais e ambientais de grande valor. Essa biodiversidade atrai turistas, estimula o turismo de experiência e a gastronomia regional, além de movimentar serviços locais como pousadas, restaurantes e passeios”, afirma Patrícia.
Segundo ela, quando bem manejada, a diversidade marinha catarinense se torna fonte de renda, identidade cultural e desenvolvimento sustentável para as comunidades costeiras. Ela também reforça que o Sebrae/SC trabalha para reduzir as barreiras que ainda dificultam a formalização e a expansão dos pequenos empreendimentos ligados à bioeconomia marinha.
“Atuamos para oferecer capacitação, consultorias e integração entre produtores, pesquisadores e gestores públicos, fortalecendo todo o ecossistema da economia azul em Santa Catarina”, explica.FONTE: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/especial-publicitario/riquezas-riquezas-do-mar/noticia/2025/11/14/biodiversidade-marinha-e-motor-para-economia-azul-em-santa-catarina.ghtml